Trecho de um texto do colunista João Pereira Coutinho, publicado na Folha de São Paulo de hoje:
""Brilho de Uma Paixão" começa por oferecer essa gramática; uma gramática sobre "a santidade dos afetos do coração", como afirma Keats, e nós vamos acompanhando a evolução desses afetos, apresentados na sua forma mais bela, despojada, dir-se-ia até pueril.
Fanny conhece Keats de forma casual, sem os heroísmos habituais dos filmes de época; em seguida, procura conhecer os seus poemas. Compra e lê "Endymion", o poema que a crítica, sempre inteligente, ridicularizou a golpes de maldade. E quando o reencontra dias depois, diz-lhe com uma honestidade tocante: "Não estou certa de ter gostado de "Endymion", mas o começo é algo de perfeito. Não conheço palavras mais sábias e premonitórias".
É o princípio de uma história de amor, embora "amor" seja termo assustador e ambíguo para o assustadiço e ambíguo Keats. Mas ele cede. E cede porque sabe: três dias de paixão são mais valiosos do que 50 anos de banalidade, escreve ele numa missiva. Mesmo que os dias sejam fugazes e, como na vida das borboletas, mortais."Uma amiga me disse que os alemães têm uma expressão, "Schmetterlinge im Bauch", que fala do frisson causado pelo amor: quem ama sente "borboletas na barriga". Isso é assustador, mas ter borboletas na barriga significa também temer que elas morram cedo demais: três dias de paixão são mais valiosos do que 50 anos de banalidade, mas o problema é ter que viver 50 anos banais depois de viver três dias verdadeiros.
Quanto a mim, não, não sou Keats, mas anseio pela minha Fanny: eu morreria em paz depois de viver ao lado dela...
(imagem: Der Schmetterlingsjäger, do alemão Carl Spitzweg, século XIX)
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