sábado, 28 de julho de 2007

O fim da ciência

Nesta semana assisti um punhado de seminários que abordavam o tema dos 'sistemas complexos'. Uma lista, feita de memória, do que eu vi, inclui o estudo dos neurônios do sistema visual de moscas, um modelo de computador para os neurônios do sistema auditivo humano, o estudo de um circuito de neurônios do sistema gastrointestinal de caranguejos (uma 'rede neural biológica') e sua interação com neurônios artificiais - a abertura desse seminário foi feita com a apresentação de um filminho do seriado "O homem de seis milhões de dólares"-, visões básicas da teoria de informação e entropia, e sei lá mais o quê...

Além das diversas variações de modelos biológicos (feitos por físicos e não por biólogos) houve um seminário sobre previsões climáticas envolvendo sei lá quantas variáveis e simulações computacionais, que levam a crer que boa parte da Amazônia deverá virar um quase-deserto em 50 anos. Mas eu gostei mesmo de um filmezinho mostrando o aparecimento de estruturas complexas em uma mistura de Maizena e água.

Bem, será que eu sei agora o que é um sistema complexo? Acho que não. Fico com a resposta que encontrei num livro lançado alguns anos atrás, chamado O fim da ciência: "complexidade parece se referir ao que você quiser". Entretanto, fazer simulações - o nome técnico é modelagem numérica - parece boa diversão, ou seja, computadores não servem apenas para se ver fotos e blogar e ler e-mails: também servem para fazer ficção cientificamente aceita.

Ôpa, calma lá! Ficção? Sim, um modelo de computador é uma ficção, que pode não ter nada a ver com a natureza, mesmo produzindo resultados que parecem muito com os naturais. Como? Bem as asas de um morcego e de uma ave fazem a mesma coisa, mas apareceram de formas diferentes - são apenas estruturas análogas (acho que é esse o nome técnico). O que eu quero dizer com isso? Acho que simular é investigar possibilidades, algo como recriar a realidade, e não um modo de reproduzir a realidade... Uma pintura é uma pintura, não um cachimbo.

Enfim, resta a questão de como a natureza faz o que ela faz: eu não sei e acho que ninguém sabe, mas é por isso mesmo que há cientistas, e por isso mesmo é interessante - e importante - ser um deles. Meus filhos ou netos, gostaria que fossem cientistas - ou artistas, pois dá quase no mesmo: ambos procuram para que outros encontrem, numa busca sem fim.

(imagem: A traição das imagens, de René Magritte, 'emprestada' da Wikipedia)

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