Enquanto corre uma onda de histeria coletiva por conta do acidente com um avião no aeroporto de Congonhas, recebo a notícia da morte de meu vizinho, num acidente de carro. No meio de páginas e páginas nos jornais, cadernos especiais e milhares de imagens para os 'mártires' e 'heróis' do vôo da TAM, demoro a encontrar umas poucas linhas falando do meu vizinho, homem comum, que tinha duas filhas pequenas...
Há uma guerra aí fora. Não uma, mas muitas, que, enfim são uma só, há séculos, com faces diferentes em diferentes lugares: tráfico de drogas e balas perdidas ali, manchetes e distorções acolá, manifestações de ódio e preconceito contra uma empregada doméstica (ah! mas ela foi confundida com uma prostituta...) em outro lugar - tudo é uma coisa só, cujo nome não sei dar.
De um lado, os bons, cheios de virtude e certezas e beleza e inteligência, e bom gosto, e de outro os maus, os feios, os incompetentes, os que só tem defeitos e vilania: simples, não é? "E você de que lado está?"
Meu vizinho morreu, mas como não rende muito explorar seu cadáver nessa guerra, ele não será nem sequer esquecido: sua morte trágica, brutal e sem sentido, foi ignorada, quase que por completo. Resta a quem o conheceu, como eu, lembrar.
Em minha mente ficam ecoando frases que ainda lembro dos anos de catecismo de minha infância: "Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte." Amém!
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