sábado, 7 de julho de 2007

Viagens de Gulliver

Uma história que redescobri recentemente começa com seu narrador dizendo que "Condenado, pela natureza e pela fortuna, a uma vida ativa e agitada"... Ah! Quanta inveja! Eu, aparentemente, fui condenado a uma pena diferente, a uma vida de imobilidade.

Já me explico: por conta de ventos, tempestades e minha imperícia, vim parar nesta terra que, descobri recentemente, é habitada por gigantes. Todos, aqui, são muito maiores que eu, que não posso me mover pelo perigo de ser esmagado por eles.

Aqui, não sou um homem. Sou uma outra coisa, tolerado por curiosidade, talvez, mas não um homem. O que eles fazem, eu não posso fazer: não tenho a estatura deles, não tenho sua qualidade, nem sua experiência.

Enfim, foram eles que me disseram, ontem mesmo, que eu não devia me mover, para o meu próprio bem - eles, que podem muito, e que só querem o meu bem, é que deveriam cuidar de tudo, fazer tudo, pensar tudo. São tão perfeitos, eles, estes gigantes: sabem tudo e mesmo que eu quisesse imitá-los não poderia - sei, por eles, que sou inferior em tudo, mas principalmente em tamanho, ambições e alma.

Assim, eu fico quase parado, fazendo apenas algo aqui e ali, consolando-me com palavras inúteis como estas. E o mundo, oras, é deles - eles são homens: eu não. Pelo que aprendi com estes gentis amigos, creio que pertenço à "mais perniciosa raça de pequenos e odiosos insetos que a natureza já permitiu rastejassem na superfície da Terra" (a descrição não é minha, mas eu devo aceitá-la - não sou capaz de descrições tão apuradas).

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