Sentado na calçada, na frente da casa dos meus pais, vejo um grupo de mulheres da vizinhança se reunir. Uma delas segura no colo um bebê gordo e branco, enquanto outra tem nas mãos uma vassoura e uma terceira usa um avental de cozinha.
As casas aqui não têm espaços livres: todas enfileiram-se lado a lado, sem gramados ou quintais, num desfile contínuo e desgracioso de muros, portões e grades. Quase não há árvores. As ruas seguem sem vagas para se estacionar: em todo lugar há garagens. A paisagem é, ao mesmo tempo, sempre diferente e monótona.
Minha família é típica deste bairro, formado por pessoas com pouca instrução formal, migrantes, trabalhadores assalariados, moradores comuns de periferia. Gente rotulada de 'simples', para diferenciá-la dos outros, os não-simples.
Os outros, bom, esses são os que trabalham comigo, todos doutores, ou meus alunos, filhos da classe média e da elite, ou as pessoas que encontro na internet, que escrevem e comentam em blogs como eu.
Posso falar de meus colegas do trabalho: são fãs, em sua esmagadora maioria, de MPB, música clássica, rock e jazz. Meu pai, por sua vez, comprou num camelô, muito antes de que eu soubesse da existência de tal produto, um DVD da Banda Calypso, que ele viu e reviu talvez milhares de vezes... Nesta semana fiquei sabendo num almoço que alguns de meus colegas já tinham assistido "O segredo" - minha família nunca ouviu falar nisso.
Deve haver diferenças nesses mundos, mas daqui, da calçada, só vejo uma multidão cinza e entediada. Talvez o problema seja de meus olhos, ou da minha alma, onde todos os detalhes se diluem até se tornarem... detalhes, insignificantes, mínimos. Os homens podem tentar até se diferenciar uns dos outros, mas eu os vejo todos iguais, amorfos como o bebê quase careca que agora toma sol nos braços do seu avô.
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