sábado, 6 de fevereiro de 2010
Instants de vie
Eu tenho andado deprimido. Sei lá, acho que estou ficando velho, e vejo que nem por isso estou um pouco mais próximo do que eu queria. O que eu queria? Nem sei mais...
Foi assim, nesse estado de espírito, sem conseguir me concentrar, que eu saí mais cedo de meu trabalho um dia desses. No estacionamento, peguei o carro e fui dar a volta no quarteirão para poder pegar a avenida principal. Havia sol, e a rua, de paralelepípedos, ladeada pelos muros do local onde eu trabalho, estava quase vazia, com um ou dois ônibus estacionados.
De repente, sem que eu tivesse tempo para ver de onde, um beija-flor apareceu. Ele parou bem no meio da rua, bem na minha frente, na altura do meu carro, entre duas árvores, flutuando sobre os paralelepípedos, na sombra, bloqueando meu caminho para a avenida, que eu já via bem à frente. Ficou segundos me olhando, hipnotizados eu e ele, e se foi do mesmo jeito que veio.
Pois bem, rememorando o que eu vi, vejo que não era apenas a tarde de mais um dia sem graça, era um dia em que a rua em que caminho sempre se tornou algo diferente, não era um beija-flor, era um anjo com uma espada de fogo, me lembrando que o paraíso e a graça existem, e são como fogos de artifício, brilhando por um instante contra um céu assustadoramente eterno.
Há milagres, eu sei, eu sempre soube, eu morrerei sabendo: há milagres, e eles podem cruzar o caminho de pecadores deprimidos como eu, só para nos lembrar de que somos apenas pecadores deprimidos.
(imagem: o título dessa postagem vem de um livrinho em francês que eu ganhei, de escritos autobiográficos da escritora Virginia Woolf, sobre o qual a wikipedia em inglês diz "As described by Woolf, 'moments of being' are moments in which an individual experiences a sense of reality, in contrast to the states of 'non-being' that dominate most of an individual's conscious life, in which they are separated from reality by a protective covering. Moments of being could be a result of instances of shock, discovery or revelation." [Como descritos por Woolf, "momentos de existência" são momentos em que um indivíduo experimenta um sentido de realidade, em contraste aos estados de não-existência que dominam a maior parte da vida consciente de um indivíduo, no sentido em que eles estão separados da realidade por uma camada protetora. Momentos de existência podem ser o resultado de instantes de choque, descoberta ou revelação].)
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Um comentário:
muito legal gostei muito mesmo de saber muito obrigada tiraram minha duvida que estava em muito peso tá.
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