terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A república


Não, o mundo, para mim, não é feito de sombras numa caverna, como no mito divulgado pelo filósofo grego Platão. Para haver sombras, é necessário que haja luz, em alguma parte - e não é isso que eu vejo: as pessoas não são projeções, sobre uma superfície, de algo iluminado. Para mim, de onde estou, simplesmente as pessoas não são.

Ou são ilusões: todos são ilusões. Ilusões que podem me prejudicar, me ferir, se quiserem, mas apenas por uma questão de proximidade física, que não se traduz em nada mais. O mundo, meu mundo, é feito de nuvens e névoas, de desertos e miragens, de incríveis perdas de tempo. O mundo é como os milhares de canais da TV: muito pouco se aproveita.

Inércia, consciência, responsabilidades, só isso me mantém onde estou. Se pudesse, não estaria. Iria para Marte, como o Doutor Manhattan, de Watchmen, ou para alguma ilha do Pacífico, como Gauguin, ou...

Não interessa, eu sei. Não faz a menor diferença que eu não esteja aqui. Nada faz a menor diferença: aos vencedores, as batatas, "and the rest is silence".

(imagem: outro mundo)

3 comentários:

A prole de Cronos disse...

Caro Atlas,

Talvez passemos mesmo a maior parte de nossas vidas apertando freneticamente o botão do controle remoto em busca de um sinal que consiga expandir, e não apenas anestesiar, nossos cansados sentidos. O verdadeiro encontro pode até ser exceção à regra (você mesmo abriu a brecha quando disse que “pouco de aproveita”), mas também serve como justificativa para a vida, que daqui do meu humilde lugar, acredito ser a mesma, em Marte, Plutão, nas ilhas do pacífico ou numa viagem de LSD.

Dedalus disse...

Caro "A prole de Cronos",

Sei não, mas minha intuição - e minha experiência pessoal - me dizem que há lugares e lugares, e que a vida pode correr diferente em cada um deles, seja por conta do ambiente, do clima, da cultura, das companhias... Em Marte, o clima é mais seco, mas há muito menos gente; em Plutão o frio não deve ser muito agradável, mas a vista talvez seja bem inspiradora; no Pacífico o mar faz toda a diferença; e do LSD pouco posso dizer, mas já fiz algumas viagens, em outras épocas, que tornaram a minha vida mais interessante, pelo menos temporariamente.

Obrigado pela visita!

E, é claro, um abraço!

ProleCronos disse...

Caro Atlas,

Meu comentário sobre a falta de relação entre a vida e os lugares saiu da percepção, pessoal, é claro, de que carrego as mesmas angústias fundamentais (algumas das quais você soube descrever muito bem) para onde quer que eu vá. Por outro lado, tenho que concordar que há lugares em que elas certamente parecem pesar um pouco menos. Quem sabe, num planeta com gravidade menor do que a terra. Quem sabe, Marte...

Se você ainda não esteve lá, aproveito para convida-lo a visitar minha casa virtual. O endereço está na minha identificação.

Abraço