sábado, 13 de março de 2010

Poemas


Todos os dias almoço com meus companheiros de trabalho, quase sempre todos homens. E sinto, ouvindo as conversas, que eu não valho a comida que como. Então, como menos, a cada dia.

Do que eles falam? Do que os homens devem falar desde que o mundo é mundo, desde que a fala foi inventada: contam piadas, falam de mulheres, do trabalho, de "coisas". Eu sigo o ritmo, e faço o mesmo, mas sinto.

Sinto muito: eu não queria falar dessas coisas, eu não queria almoçar, nem jantar. Eu queria apenas fazer poesia o tempo todo, e desaparecer no fim do dia, preenchendo o céu de cores: eu queria ser o pôr-do-sol.

(imagem: túmulo do poeta francês Jacques Prévert, que escreveu "L'âne le roi et moi Nous serons mortes demain L'âne de faim Le roi d'ennui Et moi d'amour" [O burro o rei e eu Estaremos mortos amanhã O burro de fome O rei de tédio E eu de amor]; eu acho que morro dos três...)

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