domingo, 8 de julho de 2007

Fahrenheit 451

Domingo é dia de leitura de jornais. Gasto duas ou três horas nesse ritual, mais para saber onde me encontro. Em geral, o panorama que se descortina não é dos melhores, e eu prometo a mim mesmo que não perderei mais tanto tempo com uma vista tão dolorosa. Mas, acho que sou masoquista: no domingo seguinte lá estou eu de novo, fazendo tudo igual, folheando páginas e páginas de papel sujo.

A vida é isso mesmo, repetição após repetição, com umas poucas pitadas de sabores inesperados. Afinal, nós, humanos, somos criaturas de hábitos. E hoje, domingo, não foi diferente: encontrei, por exemplo, a notícia de que estudantes universitários lêem pouco, o que, para mim, não é novidade alguma.

Há alguns anos, não muitos, participei de um seminário com o reitor de uma universidade federal, em que apareceu como convidado especial um professor de outra universidade federal, "bolsista de produtividade em pesquisa" nível 1 do CNPq, uma sumidade, experiente e com qualidade, com uma centena de "artigos completos publicados em periódicos" no campo da física. O reitor começou o seminário falando sobre uma pesquisa que mostrava que os alunos universitários liam pouco, menos de três livros por ano, e o pesquisador convidado discorreu sobre assunto em sua palestra.

Bem, a opinião do professor era a seguinte: é assim mesmo que tem que ser. Os alunos de hoje não têm que ler. Num mundo competitivo não há tempo a se perder com leituras e livros: a informação tem que ser rápida, sucinta e objetiva, e para isso a internet basta. Querer que os alunos leiam é um anacronismo, uma visão ultrapassada, jurássica. A platéia, formada principalmente por educadores e pesquisadores da área de educação, foi ao delírio...

Quando estudante de pós-graduação, fui abordado num corredor por outro colega, estudante como eu, que me viu com um livro nos braços - era uma edição das "Tragédias" de Shakespeare. A interpelação dele, séria, foi: "Como você perde tempo com isso?"

Esse é meu país: aqui a elite mais educada acha o suficiente ter um diploma e produzir. Claro, esse é um país capitalista. Aqui nunca será necessário queimar livros por medo de que eles subvertam a ordem. A ordem e o progresso sempre estiveram e estarão a salvo, como nosso lema, a nos guiar entre as estrelas.

3 comentários:

Khôra disse...

Dedalus, nada me surpreende neste post... Eis o deserto!
Continuemos flanando...
Abraço

Unknown disse...

Triste visão...

Realidade amarga para quem quer ver algum progresso...

Unknown disse...

Triste visão...

Realidade amarga para quem quer ver algum progresso...