domingo, 7 de outubro de 2007

A educação pela pedra

Há um poema de João Cabral de Melo Neto que me persegue:
"Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos."

Não sou um galo. Não trago comigo a força de tecer as manhãs. Por mais que eu me esforce, do meu trabalho de tecelão só saem teias frágeis, que não apanham nada, nem mesmo orvalho.
Mas, mesmo assim, ainda acredito que a manhã vêm, e que o sol brilhará até mesmo para mim.

Por favor, não me destruam essa ilusão.



(imagem: um galo)

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