E lendo o que escrevi, do que tenho falado? Não sei, não sei mesmo, mas dizem os cristãos que a boca do homem fala daquilo de que seu coração está cheio. O meu coração certamente está cheio, e se eu o abrisse de verdade acho que inundaria a Terra e os céus.
Mas de nada adianta ter um coração cheio: ele pode estar cheio de maravilhas, mas também de porcarias ou cheio de nada, até mesmo cheio de ar quente. O meu coração, se arrancado, medido e pesado, hoje, acho que não valeria um tostão. Não importa o que há dentro dele, não importa o que há dentro de mim, nada parece importar. Nada.
Nos evangelhos da Bíblia cristã há o seguinte texto:
"E, de manha, voltando para a cidade, teve fome. E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou - se imediatamente."Pois bem, fiquei com a incumbência de cuidar das plantas de uma amiga que viajou. Tudo ia bem até a semana passada, mas eu fiquei alguns poucos dias quentes sem ir lá e, bingo!, boa parte das plantas secou. Erro meu: quem devia ter secado era eu, que não tenho frutos, só folhas vazias, cheias de palavras inúteis.
As palavras são inúteis, e as minhas, são muitas. Não deviam ser. Eu não devia ser.
Desabafo feito, acho que eu devia ir dormir. Infelizmente, amanhã tenho que estar de pé de novo, para provavelmente enfrentar, de novo, essa ânsia de escrever até os dedos sangrarem...
(imagem: hoje não tem; o título desta postagem é de Rilke, que escreveu: "Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda." A minha eu já tenho.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário