segunda-feira, 19 de abril de 2010

Inferno


Eu escrevi recentemente que parece que Dante estava me perseguindo, e aí, no jornal de hoje, encontro quem? Uma página inteira de Laerte satirizando a "Divina Comédia" (mais precisamente o inferno).

Pouca gente sabe, mas o centro do inferno, em Dante, não é quente, muito pelo contrário:
"Neste lugar sombrio e gelado, as almas estavam completamente submersas no gelo, transparecendo como palha em cristal. Algumas estavam de pé, outras de ponta-cabeça, outras atravessadas, outras em arco, outras curvadas e outras invertidas."
De onde vem o gelo? Do vento criado pelo bater das asas de Lúcifer.

Foi na semana passada que eu revi uma outra idéia do inferno bem interessante, em um episódio de Lost. O personagem Richard Alpert, prisioneiro em um navio que naufraga numa tempestade, sobrevive ao naufrágio, mas fica preso no porão do navio, sem água ou comida, vendo o céu por uma portinhola no teto. Um dia, com ele exausto de fome e sede, chove e a água cai pela portinhola. Ele tenta alcançá-la, mas a corrente que o prende é curta demais, e ele fica sem poder se saciar, por um nada... É o mesmo castigo que foi dado a Tântalo, um rei que foi aprisionado no Tártaro, "local onde o crime encontra seu castigo".

Acho que isso dá uma boa visão do inferno: as coisas de que precisamos e que desejamos estão lá, à nossa vista, quase ao nosso alcance, mas só quase, sempre quase, eternamente quase, eternamente nos atormentando. Eu não queria estar num lugar desses, não mesmo, mas os meus pecados - ah! meus pecados! - acho que não me dão outras opções.

(imagem: Sísifo, outro cara condenado a um castigo eterno, bem mais famoso que Tântalo)

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