domingo, 18 de abril de 2010

A matemática como estruturante do pensamento físico


Lendo artigos de pesquisa em ensino de ciências, buscando textos que falassem sobre o papel da matemática na física, encontrei o seguinte trecho:
"As palavras são idéias codificadas e são a matéria prima do nosso pensamento. Integrando palavras em frases, expressamos idéias e pensamentos. A linguagem humana é o testemunho da maneira como nosso pensamento lida com as idéias, articulando-as umas às outras na construção de significados. Nem sempre existe uma correlação direta entre os significados presentes no mundo das idéias com aqueles do mundo real. Neste caso, estamos no domínio exclusivo da imaginação. Imaginação ou realidade, a linguagem deve ser entendida como a forma que temos de estruturar nosso pensamento."
Não sei nada de teorias de cognição, mas acho interessante a idéia de que as palavras nos ajudam a organizar o nosso pensamento. O problema é que também existem coisas no mundo - seja no mundo das idéias ou no mundo real - para as quais não existem palavras, ou para as quais as palavras podem fornecer apenas uma aproximação grosseira. Imagine uma bela música instrumental: como se descreve com palavras o conteúdo dela? Imagine a gravidade, descrita pela teoria da relatividade: explicar a curvatura do espaço-tempo só com palavras é explicá-la de forma incompleta.

Este blog é isso também, uma dança longa ao redor de algo que eu não sei explicar com palavras, mas que tento definir com elas, mesmo sabendo que não vou conseguir: eu vi (e vejo ainda, às vezes), com meu pensamento, imagens cuja estrutura não é facilmente reproduzida pela linguagem cotidiana, e que gostaria de compartilhar. E é duro saber que, por mais que eu tente, vou falhar nisso, mas tenho de reconhecer: é a vida.

O universo é cruel por ser assim? Não. O universo é, apenas. Cruéis podemos ser nós, rejeitando as maravilhas que ele frequentemente nos oferece por elas não se enquadrarem nas estruturas com que estamos acostumados: só temos a perder agindo assim.

(imagem: é uma onda, uma partícula ou outra coisa?; o título desta postagem vem do artigo de onde tirei a citação principal do texto)

5 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Dedalus,

Sem querer lhe atribuir estados mentais, eu acho que você está gravitando ao redor do problema da existência de conhecimento "não-proposicional". No caso de conhecimento proposicional, é possível (segundo Wittgenstein) descrevê-los até em forma vetorial:

* as sentenças têm direção (copulam sujeito com objeto)

* têm sentido (afirmativo ou negativo),tipo: José ama Maria, ou José não ama Maria.

* têm intensidade: ama muito, ama pouco.

No caso de conhecimento não-proposicional, aí tudo se complica...

My two cents, KNX.

Anônimo disse...

Ps: Troque intensidade por magnitude... KNX

Dedalus disse...

Caro KNX,

Agradeço imensamente pelos seus "two cents", que achei maravilhosos... No entanto, acho que meu problema não é só com sentenças (se elas copulam ou não) e proposições, mas com o próprio conceito de aquisição de conhecimento: a realidade fornece todo o conhecimento através de nossos sentidos e nossas considerações sobre o que "sentimos", ou o conhecimento é mais do que isso? Afinal, o que é a realidade, e qual é o nosso lugar nela? Confuso, né?

Um abraço!

Anônimo disse...

Pois então, Dedalus,

Há domínios Realidade que são inacessíveis ao discurso:

1) Questões místicas: epifanias, conversões, o sentimento profundo de ligação religiosa etc.

2) Questões éticas: o Bem, o sentimento de philia (amizade), a compaixão etc.

Wittgenstein finaliza seu livro Tractaus-Logico-Philosophicus dizendo: "Do que não se pode falar, deve-se calar". Assim, se vc perguntasse para ele o que é a Realidade, ele ficaria olhando para vc calado, feito um monge.

Cada louco com sua mania...
KNX

Dedalus disse...

Caro KNX,

Agora você acertou em cheio - o negócio aqui passa por epifanias e questões éticas, mesmo. Você tem muito bons olhos!

Um abraço!