Por conta de uma amiga, acabei encontrando um texto de um psicólogo, Julio Groppa Aquino, que fala, entre outras coisas, d"As drogas como tema transversal", ou seja, das drogas como um dos temas a serem discutidos no ensino formal, "como fios condutores dos trabalhos de aula".
A argumentação do sujeito, embora um pouco longa demais para o meu gosto, é bem interessante. Em poucas palavras, e de acordo com o meu entendimento tosco, a idéia é que os seres humanos têm desejos que podem ser satisfeitos de diversos modos, sendo que tanto o conhecimento quanto as drogas podem servir para saciar tais ânsias. Para um professor seria importante, então, tentar passar, através da educação, a "superioridade" de uma alternativa em relação à outra:
"A transformação proporcionada pela droga é compacta e provisória, ao passo que o conhecimento sistematizado traz marcas gradualmente irreversíveis e extensivas àquele que conhece de fato."Eu creio que discutir drogas - e sexo - com adolescentes é praticamente uma necessidade: eles irão inevitavelmente encontrar isso vida afora, e se ninguém com um mínimo de conhecimento falar a eles sobre isso, pior para eles. A escola pode servir muito bem para a discussão dos potenciais benefícios e malefícios de quase tudo, e drogas podem (talvez devam) estar nos temas discutidos. No entanto...
Não sei se pregar sobre a superioridade do conhecimento é adequado. Portador de mais de um diploma universitário, eu não sou mais feliz por saber um monte de coisas. Na verdade, até invejo, muitas vezes, os que não sabem muito. O que eu sinto que me faz uma pessoa melhor, e que supre meus desejos, é outra coisa, não o saber: é o amar...
Eu, particularmente, amo o saber, como amo a humanidade e outras coisas, e creio que é isso que eu devo passar aos meus alunos (além dos conteúdos): o amor, e a dedicação ao que se ama. Sei que isso deve soar muuuito piegas e ridículo, e sei também que, na academia, dominada por uma ideologia intelectual anti-emocional e algo hipócrita, falar de amor é se expor ao ostracismo e às piadas, mas se você quer realmente atingir um público mais amplo, não é apenas com argumentos racionais que você vai fazê-lo.
Eu já viajei, muito, e continuo viajando (afinal, esse blog é um diário de viagem), e a maior das minhas viagens, a que realmente me transformou, não foi com drogas, mas também não foi racional, nem física, foi uma epifania (e eu, escolarizado, nem conhecia a palavra, mas não é à toa que eu assino com o nome de um personagem de James Joyce).
Claro, não advogo uma "pedagogia do amor" ou das emoções, em que o professor seja bonzinho e emotivo, e apresente tudo em tons cor-de-rosa (inclusive as avaliações). O que eu gostaria de ver é um ensino que realmente facilitasse a convivência social e a solução dos problemas humanos, e não um blá-blá-blá vazio, do tipo que acaba levando apenas a uma falsa melhoria das estatísticas formais desse ou daquele governo. O que eu queria ver é outra coisa, diferente do desinteresse, apatia e/ou pragmatismo que sinto em boa parte dos meus colegas e dos estudantes que encontro.
O que eu queria, enfim, não interessa, já que é mesmo outra coisa, que não sei se posso declarar ou definir, e que, hoje, não posso alcançar: hoje, e desde algum tempo, eu quero o impossível, e não há droga ou conhecimento no universo que me faça alcançar isso.
(imagem: quadro do pintor Thomas Cole, intitulado "A viagem da vida - velhice", de 1842)
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