domingo, 25 de abril de 2010

O céu que nos protege


Ontem fui ao planetário de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, para participar de um "sábado astronômico", um conjunto de atividades envolvendo palestras, observações e exibições no planetário.

E, ontem, eu morri.

Houve uma palestra sobre a história da astronomia e a observação dos planetas em que quase tudo que era dito eu já conhecia, mas... A descrição do trabalho de Kepler, da descoberta das órbitas elípticas, me emocionou tanto que eu engasguei. Meus olhos marearam, meu cérebro "travou".

Aí, depois, quando as luzes do auditório principal do planetário se apagaram, eu já estava amaciado, pronto para ver e sentir as estrelas, cada uma delas, das milhares delas, em toda parte, acima, ao meu lado, dentro de mim, a suavidade de milhares de dedos luminosos tocando meus olhos, minha pele, minhas mãos...

Eu fiquei doente, senti náuseas, vertigem. Me senti pequeno, miserável, ridículo, embasbacado. Eu queria me esconder, me deitar, fugir, chorar, vomitar, flutuar, rir nervosamente, sonhar, não acordar...

Tenho mais de quarenta anos de idade, alguns diplomas, alguns empregos no currículo, família, filhos - e ontem, debaixo do céu falso de estrelas do planetário, me senti como se eu não tivesse feito nada, como se eu fosse nada, menos que um grão de pó, menor que a coisa mais insignificante que eu possa imaginar.

Não, não era para ser tão bonito. E é, absurda e dolorosamente, belo.

Não, ontem não aconteceu nada disso. Eu devo estar inventando tudo. Pois se aconteceu, e eu vi tanto e senti tanto, como vou conseguir viver o resto do meus dias? Ainda mais numa cidade como São Paulo, em que não há estrelas... Voltei para casa sem querer voltar, tarde da noite, a cabeça muito acima das nuvens, só para encontrar todos dormindo. Dormindo, enquanto eu me sentia mais desperto que nunca.

Pois é, ontem, eu morri, acordado por uma experiência profunda, que me virou do avesso, que tornou a vida que eu tinha antes impossível, e não sei para onde vou agora: depois de ontem, onde encontrarei a minha estrela guia?

(imagem: a constelação de Órion, vista nos céus da Alemanha - "todo mundo" conhece as Três Marias e a vermelha gigante Betelgeuse (por causa de um personagem de filmes e desenhos, Beetlejuice), mas o conjunto contêm ainda as estrelas Rigel, Saiph e Bellatrix (uma estrela "amazona"); meus sinceros parabéns ao pessoal do Clube de Astronomia de São Paulo, que promove as atividades do sábado astronômico)

Um comentário:

Unknown disse...

Fiquei emocionada com seu comentário!
Sinto o mesmo.
Realizei um curso de "História da Astronomia" no planetário, entendo o que você diz...
Grata pela mensagem,
Iaci